sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Não é hora.

Antonio Delfim Netto


A ideia escolar que os salários são proporcionais à produtividade marginal do trabalho é absolutamente falsa. A prova é visível. Brasília é, sem sombra de dúvida, onde é menor a produtividade do trabalho, mas ostenta os maiores salários do país!

Vemos armar-se um aparente tsunami reivindicatório de aumentos salariais. O apelo à greve é um direito do funcionalismo, mas é preciso haver responsabilidade e saber que há custos para eles, porque ela pune, basicamente, os direitos da população a quem deve servir.

Talvez seja interessante lembrar que, nos anos 80 do século passado, o Dasp (Departamento de Administração do Serviço Público) fazia pesquisas sobre níveis salariais do setor privado para tentar equiparar a eles os do setor público, ajustados pelo valor atual da vantagem da aposentadoria integral.

Nas funções mais claramente identificáveis e que exigiam mão de obra mais qualificada, os salários eram ligeiramente melhores do que os do setor privado. Talvez seja por isso que não existiam 10 milhões de candidatos preparando-se nos "cursinhos" de admissão do serviço público como hoje.

Em 1984 (quando o Brasil voltou a crescer 5,4% e já tinha superavit em conta-corrente), a situação salarial do funcionalismo estava equilibrada. A destruição do Dasp começou em 1986 e acabou gloriosamente em 1990. Desde então, cada grupo que se "ajeita", dispara uma corrida para a "equiparação" ou "isonomia"

dos que se consideram "atrasados".
Essa balbúrdia facilitou a confusão, dando a impressão equivocada de que o caos precede a ordem. Mas, como ensina o velho ditado, "é nessa confusão que morre o Tesouro Nacional"...

Não é fácil avaliar a qualidade, a razoabilidade e a justiça em cada reivindicação dos improváveis 250 mil que se dizem estar em greve causando enormes inconvenientes para a sociedade. Mas, se o número for verdadeiro, ele é uma amostra representativa (40%) de todo o funcionalismo civil federal na ativa, que é de 640 mil.

Com base nela, a razoabilidade das exigências parece ser muito precária. O rendimento real do setor público total entre janeiro de 2005 e março de 2012 (7,25 anos) cresceu nada menos do que 4,8% ao ano, contra 2,1% no setor privado.

O número total de funcionários na ativa cresceu à taxa de 2,2% ao ano. A "renda real" apropriada pelo funcionalismo federal (marajás e bagrinhos) aumentou no período 7,0% ao ano, enquanto o PIB cresceu a 3,8% ao ano.

Num momento de dificuldades como o atual, eles têm todo o direito de reivindicar, mas o governo tem o dever de resistir em nome da estabilidade que beneficia os "excluídos" 196 milhões de cidadãos brasileiros!