terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Primeira Escola de Cataguases.

Marcel Rousseau Webster (filho de Dennis Richard Webster e Louise Rousseau Webster)

Louise Rousseau Webster (Professora de Piano e de Francês do Colégio São Dinniz)


Em 1886, foi fundado a primeira escola de Cataguases, o Colégio São Dinniz, pelo inglês Dennis Richard Webster e sua esposa Carolina Webster. O Colégio, que funcionava no atual bairro São Diniz, era só para moças e em regime de internato, e atendia não só a Cataguases como a toda a região. Além das órfãs que ali residiam, a escola recebia alunas dos arredores e de lugares mais longínquos.A partir desse momento, as filhas das famílias cataguasenses não precisaram mais sair da cidade para estudar, pois o nível de instrução era comparado às melhores escolas européias. Os mestres eram, na sua maioria, estrangeiros, principalmente franceses e portugueses. Faziam parte do currículo escolar, entre outras matérias, aulas de francês, pintura, piano, canto e boas maneiras.
Em 1898 o colégio foi desativado, após uma epidemia de febre amarela, quando várias alunas e professoras faleceram, inclusive D. Carolina Webster.
Doze anos depois foi inaugurado o Ginásio Cataguases, funcionando em dois prédios: na Chácara Granjaria para os rapazes e na Chácara Drumond, na Avenida Astolfo Dutra, com Curso Normal para as moças.
Pouco tempo depois foi fundado o Colégio Nossa Senhora do Carmo, pelas irmãs Carmelitas, voltado para o ensino feminino, também em regime de internato. Em 1925, o colégio anexou o curso Normal que funcionava na Chácara Drumond.
Ainda no primeiro quartel do Século XX outras escolas foram criadas em Cataguases, como o Grupo Escolar Coronel Vieira e o Grupo escolar Guido Marlière, dedicados ao ensino primário. A criação de escolas públicas facilitou um acesso maior da camada popular à educação.
"No caminho dos maus existem armadilhas e dificuldades, quem dá valor à vida se afasta deles. Eduque a criança no caminho que deve andar, e até o fim da vida não se desviará dele". ( Livro de Provérbios de Salomão 22:5-6).
Se qualquer historiador em suas reminiscência, tentar escrever e enaltecer a área do ensino em Cataguases, sem voltar no século passado, ou seja, precisamente em 1873, quando chegava ao Brasil, procedente da Inglaterra, Bunwell, um jovem de vinte e dois anos de idade, que se chamava Dennis Richard Webster, é omitir da História uma das suas mais belas páginas no setor educacional, isto porque, não se pode explicar com meras palavras, o idealismo que trazia dentro do peito para dedicar á terra que o acolheu, terra antes conhecida por Porto dos Diamantes, depois Meia Pataca e, posteriormente, Cataguases.
Casado em primeiras núpcias com a senhora Carolina Bentes Webster, de nacionalidade portuguesa, versada em várias línguas, formada que fora em uma das mais afamadas academias do mundo, ou seja, a Academia de Lisboa
Para uma comunidade que se despontava explendorosamente, com grandes perspectivas de rápido progresso, tornava-se necessário, para que as famílias não ficassem privadas da ausência de suas filhas, indo para os centros maiores em busca do saber, a criação de seu primeiro colégio. E foi assim, que Dinnis Richard Webster, aos 35 anos de idade, com o apoio necessário de sua esposa, Carolina Bentes Webster, acalentando em seus corações o grande sonho de erigirem um educandário, planejaram juntos e executaram a construção do primeiro colégio em Cataguases, e que receberia o nome de "Colégio São Diniz".
Este extraordinário evento , aconteceu, para alegria das famílias cataguasenses, no ano de 1886, quando Dinnis Richard Webster e sua digna esposa, Carolina Bentes Webster, viam concretizar-se o seu tão badalado sonho. Este colégio era freqüentado por grande número de alunas internas, e, também, freqüentado por várias órfãs que residiam naquelas imediações, bem como várias alunas que vinham embarcadas de trem das localidades de Piraúba, Campestre, Sobral Pinto, Porto de Santo Antônio, hoje Astolfo Dutra, todas elas em busca de preparo intelectual.
Sobre o Colégio São Diniz, Dona Ofélia de Resende, relata que era um colégio à moda dos colégios estrangeiros. Ali tinha franceses, portugueses. Era, portanto, um colégio que proporcionava instrução idêntica ao que era dado nos colégios das grandes capitais da Europa.
Além da irmã mais velha de Dona Ofélia de Resende que estudava neste colégio, também, suas tias e primas estudaram piano e canto e, por sinal, cantavam maravilhosamente bem.
No colégio, também, havia um professor de raça negra que era um exímio pianista, que a todos encantava com sua maestria musical.
Segundo, também, informa José Antônio Teodoro, mais conhecido na intimidade por José do Grupo, contando atualmente 96 anos de idade, que na cidade de Piraúba onde nasceu tinha um fazendeiro cujas filhas também estudaram no Colégio São Diniz, vindo de trem até Cataguases e daqui para São Diniz.

O Colégio de São Diniz recebeu como alunas, filhas de famílias tradicionais de Cataguases, ou sejam: as famílias Resende, Vieira de Resende, Tostes, Dutra, Werneck A Lima, Almeida, Chaves, Ventania, Abreu e muitas outras. Senhora Silvina Pereira, avó de Dona Maria Lúcia Barroso, Dona Ofélia de Resende, Dona Carmelita Guimarães, cuja professora muito se destacou no magistério em Cataguases, tendo hoje uma escola que leva o seu nome; Dona Sebastiana Pereira de Souza, genitora de Zoraide Guimarães e Dona Maria Simões Vidal ( Dona Neném Silveira) que ainda sobrevive contando mais de cem anos de idade, as quais também estudaram neste modelar educandário.
Segundo relato da senhora Leda Pereira Esteves, neta do fundador do Colégio, Dinnis Richard Webster e de sua Segunda esposa Louise Rousseau Webster, publicado no jornal "Cataguases", do dia 04/09/1988, quando a mesma declara que, entre as professoras, destacavam-se Dona Leonor de Castro, Mácio da Silva Torres e sua irmã Dona Laura que eram chamadas de "mão de ouro" por fazerem trabalhos manuais como pintura e pirogravura com a maior perfeiçao e Dona Maria Rosa Pinto, além de outras professoras de canto, piano, aulas de polidez e ginástica. Todas muito dignas do elevado cargo que ocupavam. Uma que se destacou, a professora de língua francesa, Louise Rousseau, que mais tarde foi a Segunda esposa do diretor do Colégio, que ao chegar a Cataguases era recém-formada pelo Colégio das Laranjeiras, na cidade do Rio de Janeiro.
Era filha do Dr. Augusto Rousseau, engenheiro arquiteto que também muito colaborou pelo engrandecimento de nossa cidade. Francês, formado em engenharia civil, por ele foram traçadas importantes plantas como, a da Ponte Metálica, da Prefeitura Municipal de Cataguases e da antiga Igreja Católica, na Praça Santa Rita.
Fato marcante no Colégio eram as festividades entre alunas e professores, quando se promoviam reuniões, bailes e teatros, muito próprios da época.
Entretanto, devido a febre amarela que grassou em Cataguases no ano de 1897 e 1898, que vitimou Dona Carolina Bentes Webster e mais duas professoras e alunas, cujos falecimentos deixou toda a população profundamente chocada, e diante destes tristes episódios da epidemia da febre amarela, aquele Colégio que poderia Ter vida longa e, quem sabe, ser uma gloriosa realidade até nossos dias, viu cerradas as suas portas.
Dona Carolina Bentes não deixou descendentes, e seu falecimento se deu no dia 25 de junho de 1898, partindo para o plano espiritual, mas deixando atrás de si uma grande folha de serviços prestados a Cataguases, comunidade que surgia para ser em futuro próximo uma das grandes comunas do Estado de Minas Gerais. Seu esposo, Sr. Dinnis Richard Webster, profundamente desolado com o falecimento da esposa, fechou o Colégio São Diniz, encerrando-se, assim, as atividades de uma modelar escola que, apesar de 12 anos de existência, ou seja de 1886 a 1898, já se tornara um grande orgulho da região.
Casado em segundas núpcias com a professora do Colégio, a francesa Louise Rousseau Webster, constituíram numerosa família, e tiveram os seguintes filhos: Maria, William, Walter, João, Richard, Marcel e Luiza.
A primeira filha Maria Webster Amorim, casou-se com o senhor Belmiro Pereira de Amorim, português, precursor e professor das primeiras glebas de mecânicos e torneiros desta localidade, também um dos fundadores da primeira agência revendedora de automóvel, a antiga Ford de Cataguases e Leopoldina.

Juntamente com seu sogro , o inglês Dennis Richard, também ajudou a construir a antiga Usina Maurício, e trabalhou nesta empresa por muitos anos. Dessa união lhes nasceram os seguintes filhos: Lúcia, Leda, Laura, Lyra, além dos falecidos, Lea, Álvaro e Wilde.
O segundo filho, William, casou-se com Dona Alice Guerreiro, família tradicional desta cidade. Seus filhos são: Zildemar, Zildinis, Zilda, Zildéia, Zilmar. Residem em Recife.
Walter, trabalhou no Banco do Brasil (Rio de Janeiro) falecido há muitos anos.
João, casou-se com Maria Lacerda, família conceituada desta cidade. Tendo como filhos: Weber e Marly.
Richard, casou-se com Sebastiana Correia, família cataguasense. Seus filhos são: Dinis, Sérgio, Aparecida, Maria Luisa, Cecília, Ana Lúcia.
Marcel, casou-se com Maria José Marugeiro, Barbacenense, filha de pai português. Seus filhos: William, e Gleucia.
Luiza, a última filha do casal, faleceu na adolescência.

Dinnis Richard Webster, nasceu na Inglaterra, Bunwell, no dia 25/12/1851 e faleceu em 16/09/1924, aos 73 anos, na Usina Maurício, onde, também como, já dissemos, foi um dos cooperadores da mesma, isto em 7 de julho de 1908.
Um fato que merece ser destacado, constituindo motivo de orgulho para todos nós, cataguasenses, é o populoso bairro de São Diniz, conservando este nome até nossos dias, como uma justa homenagem àquele que, um dia, aqui se aportando em plena juventude, deu tudo de si para o progresso da nossa terra.
Que o exemplo deixado por Dinnis Richard Webster e Carolina Bentes Webster possa ser seguido por outros abnegados filhos de nossa Cataguses e, quem sabe, este exemplo possa ser o despertar para que, pessoas como eles o foram, possam lutar para que em breve tenhamos em nossa cidade uma Faculdade de Direito, e porque não dizer, até mesmo uma Faculdade de Medicina para que nossos filhos não necessitem mais deixar sua terra para procurarem em centros maiores a concretização de seus ideais, ou seja, suas formaturas.

Matéria retirada do "Jornal Cataguases" pelo Jornalista: Sebastião Lopes Neto. Blog: de Gleucia Maria Webster.(neta de Dinnis Richard Webster)

Reflexões de José Saramago.



O Amor não Tem nada que Ver com a Idade

Penso saber que o amor não tem nada que ver com a idade, como acontece com qualquer outro sentimento. Quando se fala de uma época a que se chamaria de descoberta do amor, eu penso que essa é uma maneira redutora de ver as relações entre as pessoas vivas. O que acontece é que há toda uma história nem sempre feliz do amor que faz que seja entendido que o amor numa certa idade seja natural, e que noutra idade extrema poderia ser ridículo. Isso é uma ideia que ofende a disponibilidade de entrega de uma pessoa a outra, que é em que consiste o amor.

Eu não digo isto por ter a minha idade e a relação de amor que vivo. Aprendi que o sentimento do amor não é mais nem menos forte conforme as idades, o amor é uma possibilidade de uma vida inteira, e se acontece, há que recebê-lo. Normalmente, quem tem ideias que não vão neste sentido, e que tendem a menosprezar o amor como factor de realização total e pessoal, são aqueles que não tiveram o privilégio de vivê-lo, aqueles a quem não aconteceu esse mistério.

José Saramago, in "Revista Máxima, Outubro 1990"

Se tens um coração de ferro, bom proveito.
O meu, fizeram-no de carne, e sangra todo dia.

Se puderes olhar, vê se podes ver, repara.
Retrato do desmoronar completo da sociedade causado pela cegueira que aos poucos assola o mundo, reduzindo-o ao obscurantismo de meros seres extasiados na busca incessante pelo poder. Crítica pura às facetas básicas da natureza humana encarada como uma crise epidémica. Mais do que olhar, importa reparar no outro. Só dessa forma o homem se humaniza novamente. Caso contrário, continuará uma máquina insensível que observa passivamente o desabar de tudo à sua volta.

Nós temos sempre necessidade de pertencer à alguma coisa; e a liberdade plena seria a de não pertencer a coisa nenhuma. Mas como é que se pode não pertencer à língua que se aprendeu, à língua com que se comunica, e neste caso, a língua com que se escreve?
Se o leitor, o leitor de livros; aquele que gosta de ler, não se limitar à quilo que se faz agora, se ele andar pra traz e começar do principio, e poder ler os primitivos e os grandes cronistas e depois os grandes poetas, a língua passa a ser algo mais que um mero instrumento de comunicação, transformando-se numa mina inesgotável de beleza e valor.

"Se não disseres nada compreenderei melhor [...], há ocasiões em que as palavras não servem de nada".

As palavras proferidas pelo coração não tem língua que as articule, retém-nas um nó na garganta e só nos olhos é que se podem ler

José Saramago 16/11/1922 Azinhaga (Portugal)



Seus pais mudaram para a capital, Lisboa, quando Saramago ainda não havia completado dois anos. Portanto, a maior parte da sua vida decorreu nessa que é uma das mais importantes cidades europeias, embora até o início da idade adulta passasse períodos numerosos e prolongados em sua aldeia natal. Autodidata, chegou a fazer estudos secundários que, por dificuldades econômicas, não prosseguiu. Seu primeiro emprego foi como serralheiro, tendo exercido depois diversas profissões: desenhista, funcionário da saúde e da previdência social e tradutor. Prêmio Nobel de Literatura
Saramago era um autor prolífico. Além de romances, publicou diários, contos, peças teatrais, crônicas e poemas. Em 1980, alcança notoriedade com o livro Levantado do Chão. Outro romance, Memorial do Convento repetiria, dois anos depois, o mesmo sucesso.
Em 1991, publica O Evangelho Segundo Jesus Cristo, livro censurado pelo governo português - o que leva Saramago a exilar-se em Lanzarote, nas Ilhas Canárias (Espanha), onde viveu até sua morte.
Entre seus outros livros estão os romances O Ano da Morte de Ricardo Reis (1984), A Jangada de Pedra (1986), Ensaio sobre a Cegueira (1995, adaptado para o cinema pelo diretor brasileiro Fernando Meirelles), Todos os Nomes (1997) e O Homem Duplicado (2002). Deve-se citar também a peça teatral In Nomine Dei (1993) e os dois volumes de diários recolhidos nos Cadernos de Lanzarote (1994-7). Casado com a jornalista espanhola Pilar Del Rio em segundas núpcias, Saramago deixou uma filha (do primeiro casamento) e dois netos. "Comunista hormonal", como ele mesmo se classificou, Saramago faleceu aos 87 anos.
18/06/2010, Lanzarote, lhas Canárias (Espanha).

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Um exemplo de dignidade.



Em protesto contra o reajuste de 61,8% concedido a deputados e senadores, o bispo não quis receber comenda

Brasília - Uma solenidade de entrega de comenda no Senado terminou em constrangimento para os parlamentares que estavam em plenário. Em protesto contra o reajuste de 61,8% concedido a deputados e senadores na semana passada, o bispo de Limoeiro do Norte (CE), dom Manuel Edmilson Cruz, recusou-se a receber a Comenda dos Direitos Humanos Dom Hélder Câmara.

Em discurso, ele destacou a realidade da população mais carente, obrigada a enfrentar as filas dos hospitais da rede pública. "Não são raros os casos de pacientes que morreram de tanto esperar o tratamento de doença grave, por exemplo, de câncer, marcado para um e até para dois anos após a consulta".

Dom Manuel da Cruz lamentou que o Congresso tenha aprovado reajuste para seus próprios salários, da ordem de 61,8%, com efeito cascata nos vencimentos de outras autoridades, "enquanto os trabalhadores do transporte coletivo de Fortaleza mal conseguiram 6% de aumento em recente luta por elevação salarial", disse. O bispo mencionou também as aposentadorias reduzidas, o salário mínimo que cresce em "ritmo de lesmas".

Comenda

Ao recusar a comenda, o bispo foi taxativo: "A comenda hoje outorgada não representa a pessoa do cearense maior que foi dom Hélder Câmara. Desfigura-a, porém. De seguro, sem ressentimentos e agindo por amor e com respeito a todos os senhores e senhoras, pelos quais oro todos os dias, só me resta uma atitude: recusá-la".

Nesse momento, quando a sessão era presidida por Inácio Arruda (PCdoB-CE), autor da homenagem, o público aplaudiu a decisão.

Após a recusa formal, o bispo cearense acrescentou que "ela é um atentado, uma afronta ao povo brasileiro, ao cidadão contribuinte para o bem de todos com o suor de seu rosto e a dignidade de seu trabalho".

Ele acrescentou que o reajuste dos parlamentares deve guardar sempre "a mesma proporção que o aumento do salário mínimo e o da aposentadoria".

Dom Edmilson Cruz afirmou que assumia a postura com humildade, sem a pretensão de dar lições a pessoas tão competentes e tão boas".

Diante da situação criada, o senador José Nery (Psol-PA) cumprimentou o bispo pela atitude considerada "coerente" com o que pensa.

"Entendemos o gesto, o grito e a exigência de dom Edmilson Cruz que, em sua fala, diz que veio aqui, mas recusará a comenda Dom Helder Câmara. Também exige que o Congresso Nacional reavalie a decisão que tomou em relação ao salário de seus parlamentares", acrescentou o senador paraense.
Mensagem recebida através de email.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Resposta à Revista Veja.

Sou professora do Estado do Paraná e fiquei indignada com a reportagem da jornalista Roberta de Abreu Lima “Aula Cronometrada”. É com grande pesar que vejo quão distante estão seus argumentos sobre as causas do mau desempenho escolar com as VERDADEIRAS razões que geram este panorama desalentador.

Não há necessidade de cronômetros, nem de especialistas para diagnosticar as falhas da educação. Há necessidade de todos os que pensam que: “os professores é que são incapazes de atrair a atenção de alunos repletos de estímulos e inseridos na era digital” entrem numa sala de aula e observem a realidade brasileira.

Que alunos são esses “repletos de estímulos” que muitas vezes não têm o que comer em suas casas quanto mais inseridos na era digital? Em que pais de famílias oriundas da pobreza trabalham tanto que não têm como acompanhar os filhos em suas atividades escolares, e pior em orientá-los para a vida? Isso sem falar nas famílias impregnadas pelas drogas e destruídas pela ignorância e violência, causas essas que infelizmente são trazidas para dentro da maioria das escolas brasileiras.

Está na hora dos professores se rebelarem contra as acusações que lhes são impostas. Problemas da sociedade deverão ser resolvidos pela sociedade e não somente pela escola.

Não gosto de comparar épocas, mas quando penso na minha infância, onde pai e mãe, tios e avós estavam presentes e onde era inadmissível faltar com o respeito aos mais velhos, quanto mais aos professores e não cumprir as obrigações fossem escolares ou simplesmente caseiras, faço comparações com os alunos de hoje “repletos de estímulos”.

Estímulos de quê? De passar o dia na rua, não fazer as tarefas, ficar em frente ao computador, alguns até altas horas da noite, (quando o têm), brincando no Orkut, ou o que é ainda pior envolvidos nas drogas. Sem disciplina seguem perdidos na vida.

Realmente, nada está bom. Porque o que essas crianças e jovens procuram é amor, atenção, orientação e disciplina.

Rememorando, o que tínhamos nós, os mais velhos, há uns anos atrás de estímulos? Simplesmente: responsabilidade, esperança, alegria. Esperança que se estudássemos teríamos uma profissão, seríamos realizados na vida. Hoje os jovens constatam que se venderem drogas vão ganhar mais. Para quê o estudo? Por que numa época com tantos estímulos não vemos olhos brilhantes nos jovens? Quem, dos mais velhos, não lembra a emoção de somente brincar com os amigos, de ir aos piqueniques, subir em árvores?

E, nas aulas, havia respeito, amor pela pátria.. Cantávamos o hino nacional diariamente, tínhamos aulas “chatas” só na lousa e sabíamos ler, escrever e fazer contas com fluência.

Se não soubéssemos não iríamos para a 5ª. Série. Precisávamos passar pelo terrível, mas eficiente, exame de admissão. E tínhamos motivação para isso.

Hoje, professores “incapazes” dão aulas na lousa, levam filmes, trabalham com tecnologia, trazem livros de literatura juvenil para leitura em sala-de-aula (o que às vezes resulta em uma revolução), levam alunos à biblioteca e a outros locais educativos (benza, Deus, só os mais corajosos!) e, algumas escolas públicas onde a renda dos pais comporta, até a passeios interessantes, planejados minuciosamente, como ir ao Beto Carrero.

E, mesmo, assim, a indisciplina está presente, nada está bom. Além disso, esses mesmos professores “incapazes”, elaboram atividades escolares como provas, planejamentos, correções nos fins-de-semana, tudo sem remuneração;

Todos os profissionais têm direito a um intervalo que não é cronometrado quando estão cansados. Professores têm 10 minutos de intervalo, quando têm de escolher entre ir ao banheiro ou tomar às pressas o cafezinho. Todos os profissionais têm direito ao vale alimentação, professor tem que se sujeitar a um lanchinho, pago do próprio bolso, mesmo que trabalhe 40 h.semanais. E a saúde? É a única profissão que conheço que embora apresente atestado médico tem que repor as aulas. Plano de saúde? Muito precário.

Há de se pensar, então, que são bem remunerados... Mera ilusão! Por isso, cada vez vemos menos profissionais nessa área, só permanecem os que realmente gostam de ensinar, os que estão aposentando-se e estão perplexos com as mudanças havidas no ensino nos últimos tempos e os que aguardam uma chance de “cair fora”.Todos devem ter vocação para Madre Teresa de Calcutá, porque por mais que esforcem-se em ministrar boas aulas, ainda ouvem alunos chamá-los de “vaca”,”puta”, “gordos “, “velhos” entre outras coisas. Como isso é motivante e temos ainda que ter forças para motivar. Mas, ainda não é tão grave.

Temos notícias, dia-a-dia, até de agressões a professores por alunos. Futuramente, esses mesmos alunos, talvez agridam seus pais e familiares.

Lembro de um artigo lido, na revista Veja, de Cláudio de Moura Castro, que dizia que um país sucumbe quando o grau de incivilidade de seus cidadãos ultrapassa um certo limite.

E acho que esse grau já ultrapassou. Chega de passar alunos que não merecem. Assim, nunca vão saber porque devem estudar e comportar-se na sala de aula; se passam sem estudar mesmo, diante de tantas chances, e com indisciplina... E isso é um crime! Vão passando série após série, e não sabem escrever nem fazer contas simples. Depois a sociedade os exclui, porque não passa a mão na cabeça. Ela é cruel e eles já são adultos.

Por que os alunos do Japão estudam? Por que há cronômetros? Os professores são mais capacitados? Talvez, mas o mais importante é porque há disciplina. E é isso que precisamos e não de cronômetros. Lembrando: o professor estadual só percorre sua íngreme carreira mediante cursos, capacitações que são realizadas, preferencialmente aos sábados. Portanto, a grande maioria dos professores está constantemente estudando e aprimorando-se.

Em vez de cronômetros, precisamos de carteiras escolares, livros, materiais, quadras-esportivas cobertas (um luxo para a grande maioria de nossas escolas), e de lousas, sim, em melhores condições e em maior quantidade..

Existem muitos colégios nesse Brasil afora que nem cadeiras possuem para os alunos sentarem. E é essa a nossa realidade! E, precisamos, também, urgentemente de educação para que tudo que for fornecido ao aluno não seja destruído por ele mesmo

Em plena era digital, os professores ainda são obrigados a preencher os tais livros de chamada, à mão: sem erros, nem borrões (ô, coisa arcaica!), e ainda assim se ouve falar em cronômetros. Francamente!!!

Passou da hora de todos abrirem os olhos e fazerem algo para evitar uma calamidade no país, futuramente. Os professores não são culpados de uma sociedade incivilizada e de banditismo, e finalmente, se os professores até agora não responderam a todas as acusações de serem despreparados e “incapazes” de prender a atenção do aluno com aulas motivadoras é porque não tiveram TEMPO.

Responder a essa reportagem custou-me metade do meu domingo, e duas turmas sem as provas corrigir.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

A VERGONHA - Crônica de Luiz Fernando Veríssimo.

"Que me perdoem os ávidos telespectadores do Big Brother Brasil (BBB),
produzido e organizado pela nossa distinta Rede Globo, mas conseguimos
chegar ao fundo do poço... A décima primeira (está indo longe!)
edição do BBB é uma síntese do que há de pior na TV brasileira. Chega
a ser difícil,... encontrar as palavras adequadas para qualificar
tamanho atentado à nossa modesta inteligência.
Dizem que em Roma, um dos maiores impérios que o mundo conheceu, teve
seu fim marcado pela depravação dos valores morais do seu povo,
principalmente pela banalização do sexo. O BBB é a pura e suprema
banalização do sexo. Impossível assistir, ver este programa ao lado
dos filhos. Gays, lésbicas, heteros... todos, na mesma casa, a casa
dos “heróis”, como são chamados por Pedro Bial. Não tenho nada contra
gays, acho que cada um faz da vida o que quer, mas sou contra safadeza
ao vivo na TV, seja entre homossexuais ou heterosexuais. O BBB é a
realidade em busca do IBOPE...

Veja como Pedro Bial tratou os participantes do BBB. Ele prometeu um
“zoológico humano divertido” . Não sei se será divertido, mas parece
bem variado na sua mistura de clichês e figuras típicas.
Pergunto-me, por exemplo, como um jornalista, documentarista e
escritor como Pedro Bial que, faça-se justiça, cobriu a Queda do Muro
de Berlim, se submete a ser apresentador de um programa desse nível.
Em um e-mail que recebi há pouco tempo, Bial escreve maravilhosamente
bem sobre a perda do humorista Bussunda referindo-se à pena de se
morrer tão cedo.
Eu gostaria de perguntar, se ele não pensa que esse programa é a morte
da cultura, de valores e princípios, da moral, da ética e da
dignidade.
Outro dia, durante o intervalo de uma programação da Globo, um outro
repórter acéfalo do BBB disse que, para ganhar o prêmio de um milhão e
meio de reais, um Big Brother tem um caminho árduo pela frente,
chamando-os de heróis. Caminho árduo? Heróis?
São esses nossos exemplos de heróis?
Caminho árduo para mim é aquele percorrido por milhões de brasileiros:
profissionais da saúde, professores da rede pública (aliás, todos os
professores), carteiros, lixeiros e tantos outros trabalhadores
incansáveis que, diariamente, passam horas exercendo suas funções com
dedicação, competência e amor, quase sempre mal remunerados..
Heróis, são milhares de brasileiros que sequer têm um prato de comida
por dia e um colchão decente para dormir e conseguem sobreviver a
isso, todo santo dia.
Heróis, são crianças e adultos que lutam contra doenças
complicadíssimas porque não tiveram chance de ter uma vida mais
saudável e digna.
Heróis, são aqueles que, apesar de ganharem um salário mínimo, pagam
suas contas, restando apenas dezesseis reais para alimentação, como
mostrado em outra reportagem apresentada, meses atrás pela própria
Rede Globo.
O Big Brother Brasil não é um programa cultural, nem educativo, não
acrescenta informações e conhecimentos intelectuais aos
telespectadores, nem aos participantes, e não há qualquer outro
estímulo como, por exemplo, o incentivo ao esporte, à música, à
criatividade ou ao ensino de conceitos como valor, ética, trabalho e
moral.
E ai vem algum psicólogo de vanguarda e me diz que o BBB ajuda a
"entender o comportamento humano". Ah, tenha dó!!!
Veja o que está por de tra$$$$$$$$$$$$$$$$ do BBB: José Neumani da
Rádio Jovem Pan, fez um cálculo de que se vinte e nove milhões de
pessoas ligarem a cada paredão, com o custo da ligação a trinta
centavos, a Rede Globo e a Telefônica arrecadam oito milhões e
setecentos mil reais. Eu vou repetir: oito milhões e setecentos mil
reais a cada paredão.
Já imaginaram quanto poderia ser feito com essa quantia se fosse
dedicada a programas de inclusão social: moradia, alimentação, ensino
e saúde de muitos brasileiros?
(Poderiam ser feitas mais de 520 casas populares; ou comprar mais de
5.000 computadores!)
Essas palavras não são de revolta ou protesto, mas de vergonha e
indignação, por ver tamanha aberração ter milhões de telespectadores.
Em vez de assistir ao BBB, que tal ler um livro, um poema de Mário
Quintana ou de Neruda ou qualquer outra coisa..., ir ao cinema...,
estudar... , ouvir boa música..., cuidar das flores e jardins... ,
telefonar para um amigo... , visitar os avós.. , pescar..., brincar
com as crianças... , namorar... ou simplesmente dormir.
Assistir ao BBB é ajudar a Globo a ganhar rios de dinheiro e destruir
o que ainda resta dos valores sobre os quais foi construída nossa
sociedade."

Luis Fernando Veríssimo