segunda-feira, 28 de março de 2011

Timbolão


Casimiro Cunha
(Francisco Cândido Xavier)

Meus filhos, quem faz o mal... Tem o mal como lição.
Vejamos o triste caso do pequeno Timbolão,
apesar de bem crescido, forte alegre e bonitão,
era peralta e travesso o menino Timbolão:

Saiu expulso da escola, enchendo a mamãe de amargor,
atirou cinco bombas na mesa do professor.
Junto à casa dos vizinhos fazia sempre arruaças,
pondo fogo no jardim e apedrejando as vidraças.

Abria malas e cofres manejando a velha pua
e até fincava alfinetes nas mãos dos cegos na rua
Dona Custódia a mãezinha falava-lhe sempre assim:
- Ah! meu filho, seja bom, tenha piedade de mim.

Mas o menino teimoso pouco ligava aos conselhos,
depois de ouvir a mãezinha quebrava copos e espelhos.
Um dia fez uma cobra toda de arame e papel
tentando dar uma queda na pobre dona Isabel.

Mais tarde pôs na cozinha grande casca de banana
tentando dar outra queda na lavadeira Donana.
Mas o pequeno esqueceu, e foi no tanque brincar,
escorregou de repente num tombo espetacular.

Aos gritos de toda a casa no barulho da aflição,
lá se vai escada abaixo o travesso Timbolão.
Dona Custódia chorando, chega de passo cansado,
Timbolão mais parecia um boneco ensangüentado.

Para limpar o nariz, trouxeram enorme fronha,
o sangue corria em bica, a queda fora medonha.
Gritava e chorava tanto, e parecia tão mal,
que foi conduzido à pressa para o leito do hospital.

O médico examinou demonstrando inquietação,
depois falou muito aflito, coitado do Timbolão.
Ele partira dois dentes, estava com a testa inchada
e tinha a perna direita toda ferida e quebrada.

Envolvido em atadura, de olhar triste e cara fina,
começou tomando soro e muita penicilina.
Mas a perna piorava, e era tanta a inflamação,
que o doutor sem mais demora, pediu a operação.

Timbolão atado à mesa, gemia desesperado,
mas lembrando, sempre, sempre, que ele mesmo era o culpado.
Terminado o tratamento, parecia novo em tudo,
e abraçava a mãezinha com grande atenção no estudo.

Infelizmente o menino, por haver sido tão mau,
agora estava bonzinho, mas ficou com perna de pau.


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Não existe efeito, sem causa.
Se tudo isso aconteceu a Timbolão, foi por motivo de seu comportamento e desatenção aos conselhos...

quinta-feira, 17 de março de 2011

VÍTIMAS DE TERREMOTO E TSUNAMI NO JAPÃO DÃO LIÇÃO DE PACIÊNCIA E EDUCAÇÃO MESMO EM SITUAÇÃO-LIMITE


SENDAI, Japão – Num abrigo improvisado tomado por famílias japonesas com crianças pequenas, todos vivendo o que consideram ser os momentos mais difíceis de suas vidas, a mãe de duas meninas faz uma reverência para a jornalista estrangeira que a aborda e responde gentilmente: “Sim, posso dar entrevista. Muito prazer em conhecê-la”. A moça conta sua história – seu prédio está ameaçado de desabamento, e ela não pode voltar – com um semblante cansado, mas de um jeito contido. Está sem perspectivas, mas não pede ajuda de quem ainda tem água, comida e combustível – três itens que valem ouro no nordeste do Japão – nem diz palavras que possam soar como um protesto contra as autoridades ou um lamento contra seu destino. Os japoneses estão sofrendo muito, a situação é dramática em algumas áreas, mas é impressionante a maneira ordeira como se comportam no pior dos momentos.

Em dois dias, o GLOBO percorreu 1.200 quilômetros de carro pelo interior do país, saindo de Tóquio em direção à Sendai. Filas em postos de gasolina, supermercados e lojas de conveniência são agora a principal paisagem da província de Miyagi, que contabiliza o maior número de mortos. Mas são exatamente isso: filas, e não tumultos. É uma sociedade acostumada a seguir regras, mesmo quando o que mais temem – imprevistos – acontece. Há engarrafamentos em alguns pontos das estradas, mas tentar escapar pelo acostamento, por exemplo, é uma cena impensável.

Gente que já não tem para onde voltar espera nos abrigos improvisados as próximas ordens – em silêncio. Alguns compartilham suas experiências, mas nada tem a marca do exagero. Falam baixo e pausadamente, sem atropelos. É uma das muitas regras do rígido e organizado país que, não se pode esquecer, é um arquipélago: o coletivo é mais importante que o individual, e não se destacar – ser igual – é uma virtude. É uma filosofia que custa caro para quem quer ser exatamente o oposto – ser diferente – mas em momentos como esse, de tragédia nacional, o resultado é exemplar.

Depois de conversar com a mãe das meninas, uma faxineira que ajudara a salvar os vizinhos de seu apartamento, arrombando uma porta de emergência que travara após o terremoto, a equipe de reportagem do GLOBO deixa o abrigo e tenta avançar em direção ao litoral. No meio do caminho, um problema é constatado: a carteira com cartões de crédito e mais de US$ 700 ficara para trás, num momento de desatenção. Os japoneses gostam de receber o cartão de visita das pessoas com quem falam e, na pressa para vasculhar a bolsa em busca dessa identificação, provavelmente a carteira caíra. A primeira reação de uma brasileira é dizer que nem adiantava voltar, era melhor cancelar os cartões e dar o dinheiro como perdido. O japonês que dirigia o carro do GLOBO, o fotógrafo Suzuki Kantaro, se espantou e avisou:

- Vamos voltar e a carteira estará lá. Não existe outra possibilidade.

Voltamos. E a carteira estava lá. Havia sido achada e entregue, intacta, para os funcionários da escola transformada em abrigo, um lugar onde as pessoas já não têm quase nada, mas davam uma tremenda lição de dignidade e correção.